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Leandro Tadeu Novi

O caçula de três irmãos, sempre gostou muito de estudar, tendo cursado o ensino básico em São Caetano do Sul. No ensino superior, cursou Engenharia Industrial Elétrica, ao mesmo tempo em que começou a trabalhar em uma empresa na área de marketing, que era o que ele realmente deseja ter cursado. Após trabalhar em uma empresa de engenharia, também na área de marketing, criou a sua empresa de assessoria e marketing. Foi convidado a palestrar sobre Marketing em uma universidade, que o convidou a lecionar lá. Decidiu então por fazer o mestrado em Comunicação na USCS que acabara de abrir e foi o primeiro a receber o título de mestre em 2010. No ano seguinte, prestou concurso, e então passou a lecionar apenas na USCS. Participou do desenvolvimento do canal USCS TV, assim como da concepção da 1ª Feira de Comunicação em 2015 e coordenar os projetos integrados da escola de comunicação. Imagem do Depoente
Nome:Leandro Tadeu Novi
Nascimento:03/02/1969
Gênero:Masculino
Profissão:Professor
Nacionalidade:Brasil
Naturalidade:São Caetano do Sul (SP)

TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO DE LEANDRO TADEU NOVI EM 21/06/2017

Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)

Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC e Laboratório Hipermídias

Depoimento de Leandro Tadeu Novi, 48 anos.

São Caetano do Sul, 21 de junho de 2017.

Entrevistadores: Luciano Cruz

Equipe técnica: Ileane Ribeiro

Transcritora: Bruna Moura


Pergunta:

Bom Leandro, eu queria que você começasse falando nome completo, local e data de nascimento, por favor.


Resposta:

Leandro Tadeu Novi, eu nasci em 03 de fevereiro de 1969, aqui em São Caetano mesmo.


Pergunta:

Leandro, fala um pouquinho sobre quais lembranças que você tem aí dessa sua primeira infância, desse ambiente familiar aqui em São Caetano.


Resposta:

Bom, eu vivi sempre numa família muito acolhedora, nós éramos em cinco em casa, meus pais, eu e dois irmão, eu sou o caçula, e eu me lembro muito dessa questão do relacionamento familiar, sempre foi uma coisa muito importante para os meus pais, então eles sempre investiram muito nessa questão do relacionamento, da proximidade. A gente vivia numa época que favorecia isso, ainda tinha aquela coisa da mãe que não trabalhava fora de casa, o pai que, geralmente, chegava sempre no mesmo horário, tinha todo aquele ritual dos filhos estarem prontos já, de banho tomado, preparados para aguardar a chegada do pai, e o convívio que acontecia ali normalmente. Então, eu tenho uma lembrança bastante rica desse relacionamento.


Pergunta:

Como era São Caetano naquela época?


Resposta:

Eu morava num bairro pequeno em São Caetano, e que tudo era muito próximo, lembrava muito uma cidade do interior, então todo mundo se conhecia, até a terceira geração das famílias, né? São Caetano até hoje conserva esse hábito de trazer o nome da família, o sobrenome das pessoas, se fala muito disso. Então, eu acredito que esse era o traço mais marcante assim. São Caetano tinha essa característica de cidade de interior, em que a gente ficava muito na rua, a gente tinha muito aquela coisa de sentar na calçada e conversar, bem...


Pergunta:

Quais as brincadeiras aí de moleque de rua?


Resposta:

Cara, eu ficava de bicicleta o dia todo, bicicleta era o meu meio de transporte era voltar da escola e pegar a bicicleta, mas a gente jogava bola na rua, jogava futebol na rua, brincava de pega-pega, a gente explorava muito o bairro, brincava de polícia e bandido, então ficava explorando o bairro inteiro.


Pergunta:

Qual que era o bairro?


Resposta:

Prosperidade.


Pergunta:

Prosperidade. E como foi esse início aí da escola? Primeiro período escolar, como que foi esse impacto de começar a escola?


Resposta:

Eu me recordo que eu tentei fazer o parquinho na época, quando era o maternal. Detestei, e isso foi uma preocupação enorme para os meus pais, porque: ‘ah, você não vai gostar de escola', porque era muito difícil aquela interação, eu era muito de casa, era muito relacionamento de família, aí de repente me vi sozinho lá, ainda pequeno, no maternal. Mas depois, quando eu entrei na pré-escola, já foi bem mais tranquilo. Então, eu sempre gostei muito de estudar, estudar para mim sempre foi um prazer. Então, eu estudava numa escola do bairro, chamada Professor Vanderlei Ramos Brandão. Uma escola pequena também, e eu estudei até a formação do ensino fundamental, eu me mantive nessa escola, então foi um período bem bacana assim. Eu tive alguns momentos em que eu pude me destacar, como na minha vida acadêmica, então eu lembro que eu representei escola, eu acho que eu tinha sete ou oito anos na época, eu representei escola num evento com o então prefeito, que foi se discutir merenda escolar, foi se discutir uma série de coisas, então foi uma lembrança bem bacana que eu tive naquele momento. Uma outra lembrança foi no final, na antiga oitava série, que a nossa escola ia fechar, ela passar a ser incorporada por uma outra escola do bairro, uma escola maior, e existia uma reação muito negativa dos alunos na minha escola, eu já estava de saída, mas existia uma reação muito negativa dos alunos que teriam que mudar de escola. E eu lembro que eu fui convidado pela direção para falar num evento com todos os alunos, e tentar passar uma mensagem mais motivadora, e foi bem bacana, foi um momento bem rico, que eu comecei a sentir que eu gostava de lidar com público, que eu gostaria de falar com as pessoas e tal [5'].


Pergunta:

Como foi a sequência da vida escolar?


Resposta:

Bom, daí, quando eu terminei o ensino fundamental, eu passei a estudar no Instituto de Ensino de São Caetano, fui fazer o ensino médio lá. Eu tinha uma dúvida na época se eu faria algum curso profissionalizante, que era uma febre na época, né? Existia uma tendência muito forte das pessoas optarem pelo profissionalizante, mas eu não tinha ainda clara a carreira que eu queria seguir. Então, eu acabei preferindo fazer o segundo grau regular, e foi aí que eu comecei a pensar em termos de desenvolvimento profissional, o que eu queria fazer, toda aquela ansiedade de vestibular e tudo mais. O ensino médio foi bem tranquilo, uma fase de muitas descobertas, de amizades mil, uma interação social extremamente grande que a gente vivia lá no antigo Instituto, e depois, aí eu tomei a decisão do curso que eu iria seguir na graduação. É muito engraçada a história, porque eu tinha um desejo de ir para a área de marketing, mas era uma área pouco conhecida, pouco divulgada até então, e a gente acreditava que o mercado de trabalho era muito restrito. E aí eu acabei por força da realidade de mercado da época fazendo faculdade de Engenharia. Fui para a área de Engenharia Industrial Elétrica, cursei seis anos na época, então eu comecei a fazer esse curso, mas logo em seguida eu comecei a trabalhar numa empresa, para ajudar a pagar a faculdade, e tudo mais, e por força do destino, eu fui convidado para atuar na área de marketing dessa empresa. Quando a coisa começou a evoluir, eu pensei: ‘poxa, eu devia ter investido na área de marketing mesmo'. Mas adorei o curso de engenharia, foi super bacana, muito positivo, me trouxe vários aprendizados importantes aí. Aí, profissionalmente, eu comecei a atuar, depois que eu já estava atuando na área de marketing, tive que me desligar da área de marketing para fazer o estágio, que era obrigatório na área de engenharia. Fiz esse estágio, acredito que um ano, um ano e dois meses de estágio, fui efetivado numa empresa na área de engenharia de aplicação e, de novo, o destino foi conduzindo, fui para a gerência de produto e voltei para a área de Marketing, que foi onde eu desenvolvi toda a minha carreira corporativa depois.


Pergunta:

Nesse momento de escolha, como foi a posição dos seus pais aí, quando você acabou optando pela engenharia, foi influenciado, deixaram você decidir, como é que foi essa escolha mútua dentro de casa?


Resposta:

Meus pais sempre me apoiaram muito, eles sempre acreditaram muito nas minhas escolhas. Então, quando eu dizia da área de Marketing, eles não tinham nenhuma restrição, apoiaram, mas quando eu disse que iria para a Engenharia, por ser uma opção na época que eu visualizava como melhor de mercado, eles também apoiaram totalmente, inclusive financeiramente. Eu não trabalhava na época, era um curso que não era barato, e eles me apoiaram bastante nesse sentido. Mas eu entendo que, quando eles me viram voltando para aquela área que eu tinha sonhado inicialmente, eles ficaram bem felizes com isso.


Pergunta:

O primeiro emprego é sempre um rito de passagem, de amadurecimento. Como foi essa chegada ao primeiro emprego e como que era a sua atuação?


Resposta:

Nossa, bem interessante! Eu precisava trabalhar, eu queria entrar no mercado de trabalho, mas eu não tinha nenhuma formação técnica, porque eu tinha optado por fazer o segundo grau sem uma formação profissionalizante, e o caminho de entrada era a função do Auxiliar de Escritório, e eu fui trabalhar numa empresa pequena, no Ipiranga, em que você era um pouco faz tudo, então eu lembro que eu brincava que eu era um office boy de luxo, que eu fazia uma série de trabalhos externos e tudo mais, com esse nome de Auxiliar de Escritório. Acho que eu fiquei nessa função por uns quatro meses, até que eu participei de um curso de formação interno, uma formação que foi oferecida pelo pessoal de RH e, nesse momento, no final, uma das últimas palestras, o profissional estava lá para falar um pouquinho sobre mercado, como ele visualizava mercado, e era uma área que eu gostava muito, apesar de não ter formação, e eu comecei a discutir com esse palestrante, dizendo meu ponto de vista, onde a gente discordava e tal [10']. E, quando terminou a palestra, eu fiquei sabendo então que era o diretor de marketing da empresa, e a primeira reação de todo mundo foi: ‘nossa, você vai ser mandado embora na segunda-feira'. E realmente na segunda-feira, quando eu estava trabalhando no meu setor, o diretor de marketing aparece para conversar com meu gerente, e aí eu só pensava mesmo que eu ia ser demitido, não tinha outra possibilidade. Mas não, ele ficou contente da minha postura de ter discutido, de ter questionado, de ter trazido outras possibilidades, e foi pedir autorização do meu então gerente para me levar para a área de marketing, e foi aí que eu pude ingressar na área de marketing e aí as coisas começaram a acontecer de uma forma super bacana.


Pergunta:

Você lembra quais foram esses questionamentos?


Resposta:

Nossa, cara. Se eu não me engano, é que faz bastante tempo, mas eu lembro que a gente tinha um dilema lá na empresa, porque a gente trabalhava com segmentos de mercado bem distintos, era uma empresa de ferramentas já montadas, que fornecia tanto para a autoindústria, indústria de tecnologia, alguns produtos, e outros produtos para empresa de marmoraria, por exemplo, e ele falava muito de padronização, do nome da marca, de fortalecer a marca, e tudo mais. E eu lembro que eu discutia que eram mercados muito distintos, que por mais que a gente buscasse uma padronização, que era muito importante atuar de maneira mais diferenciada em cada um desses segmentos. E a discussão ficou ali, padroniza ou não padroniza, entra no específico ou não entra, eu acho que foi mais ou menos por aí a discussão. E, logo em seguida, eu lembro que a minha primeira grande tarefa na área de marketing quando eu entrei, foi justamente implantar um sistema de monitoramento de mercado, que passou a trabalhar com áreas distintas, trabalhando marmoraria, segmento de pedras de corte de um lado, e por outro lado a indústria de alta tecnologia.


Pergunta:

Bacana! A gente fala muito hoje na importância da formação multidisciplinar. O quanto você acredita que essa sua formação na área de engenharia ajudou a desenvolver as atividades que você desenvolve hoje?


Resposta:

Certo. Eu vejo diferentes momentos. Num primeiro momento, eu trabalhei em empresas na área de marketing, mas em empresas B2B, empresa que mexiam sempre com tecnologia e tudo mais. Então, o fato de ter a engenharia me facilitava muito a compreensão desses produtos com os quais eu iria trabalhar. Então era muito tranquilo para mim compreender a linguagem que se falava no meio da indústria, e a engenharia que me trouxe essa possibilidade. Futuramente, depois de passado todo um tempo de evolução da carreira, eu tive a chance de montar uma agência de comunicação empresarial, em que eu era responsável por entrevistar muitos profissionais, para captar as informações e divulgar essa comunicação, divulgar essas entrevistas e tudo mais para o público em geral, e aí a engenharia me facilitou de novo, porque quando eu ia entrevistar os engenheiros, o pessoal da área de tecnologia, eles tinham uma restrição muito grande, de achar que como um comunicador não iria compreender, eles não se sentiam à vontade para usar termos técnicos e tal. Quando eles sabiam que a minha formação era de engenharia, eles ficavam muito mais à vontade e podiam trabalhar a linguagem deles da maneira que eles estavam acostumados, e eu fazia essa migração. Então isso me facilitou muito nessa época em que eu conduzia redação e produção de texto para veículos de comunicação interna.


Pergunta:

Vamos avançar na sua carreira. Então você falou que estava tentando sair da publicidade, mas a publicidade, tal qual Dom Corleoni te puxava de volta para lá. Como que foi essa evolução da carreira?


Resposta:

Então, quando eu terminei o estágio de engenharia, fui efetivado, e passei a trabalhar na engenharia de aplicação, com uma linha específica de produtos que estavam sendo implantados na empresa naquela época. Era uma empresa de automação, e a gente estava trazendo, ela era muito forte em automação pneumática, e nós estávamos trazendo uma linha de produtos eletrônicos para complementar essa automação. E eu dei a sorte de estar num momento que se montou um time muito forte de engenharia de aplicação, em que eu podia atuar com engenheiros extremamente experientes da área de pneumática, e trazendo os conhecimentos da área de eletrônica [15']. Nessa engenharia de aplicação, além de fazer a introdução dos produtos no mercado, a gente tinha uma função muito importante de fazer toda a parte de documentação desses produtos, levar a comunicação desses produtos para o mercado, e encontrar novos mercados para implantar os produtos. Então a ponte entre a área mercadológica e a área de gerência de produtos era muito próxima, e como eu já tinha essa veia, já tinha atuado na área, dentre aquele grupo de engenheiros, eu fui tendo...essa função foi sendo muita vezes direcionada para mim. E eu comecei a fazer esse tipo de trabalho não só a linha que eu era responsável, linha de sensores na ocasião, mas com as demais linhas também. Até que, com o esforço de formar uma área de marketing mais estruturada na empresa, e tudo mais, eu fui convidado para trabalhar na área de gestão de produtos e desenvolvimento de novos mercado. Então eu atuei por bastante tempo nessa área até perceber que eu tinha uma vocação para transformar o empreendedorismo que eu tinha dentro da empresa em algo fora da empresa também, e aí eu montei a minha empresa, que na época tinha tanto a pegada de comunicação, como de assessoria em marketing, então aí as coisas começaram a acontecer dentro da empresa, meu primeiro cliente foi a minha ex-empresa então, onde eu comecei a fazer, dar suporte de marketing, continuei com esse trabalho de suporte de marketing, e sempre migrando aí para a área de comunicação. A gente começou a desenvolver campanhas para esse cliente e abrindo campanhas também para outros possíveis clientes muito ainda no B2B. Com o passar dos anos, a empresa foi tomando uma outra cara, os anunciantes, não mais do B2B, mas voltados para clientes usuário final e tal, começaram a chegar na agência. A gente trabalhou bastante tempo com full service, que a gente chama, área de mídia, de criação, de planejamento dentro da agência. Foi por volta do ano 2000, 2003, a gente passou por um processo de separação, até então foram chegando sócios e tudo mais na agência. A gente separou, e eu fiquei com uma área específica de comunicação empresarial. Era um momento que se falava muito de sustentabilidade, responsabilidade socioambiental, as empresas tinham essa demanda, tudo mais, e eu fiquei bem focado nessa área. Aí eu comecei a ter esse trabalho mais ligado à comunicação empresarial nas organizações. A empresa se mantém até hoje focada nessa área de atuação. Foi nesse meio tempo que chega a área acadêmica na minha vida. Eu fui convidado para falar sobre carreira numa faculdade, e o professor que coordenava esses trabalhos era também gestor de curso.


Pergunta:

Qual que era a faculdade?


Resposta:

Era a Faculdade Anchieta, em São Bernardo, e era o curso de Marketing. Então, eu fui convidado para palestrar para os alunos daquela turma, e naquele momento realizei a palestra, tudo mais, fui convidado por um aluno da própria turma, que me conhecia e tal, e o professor, que era também coordenador do curso, estava lá acompanhando tudo e, por algum motivo, ele sentiu que existia uma veia para a área acadêmica, e me perguntou se eu tinha interesse em abraçar essa área. No momento eu fiquei um pouco em dúvida e tal, mas dois meses depois ele voltou a me contatar, dizendo que gostaria que eu me juntasse à equipe e aí eu comecei a lecionar. Lecionei lá por dois anos e um pouquinho, até que...naquele momento eu já senti que era uma área que ia conduzir a minha carreira dali para frente. Então, procurei o mestrado na USCS. Eu já tinha feito um lato sensu em Marketing na USCS, foi meu primeiro contato com a USCS, em 1994, 1995, na época a gente tinha o CEAPOG, que era o Centro Avançado de Pós-Graduação. Já tinha então lato sensu na área de Marketing, e aí quando eu quis fazer o mestrado, eu fui procurar de novo a USCS e, naquele momento, estavam abertas a primeira turma do curso de mestrado em comunicação [20']. Então eu participei do processo seletivo da primeira turma, fiz o mestrado, fui o primeiro mestre, o primeiro a receber o título de mestre em comunicação pela USCS, isso em setembro de 2010, e logo em seguida eu prestei um concurso para ser docente da USCS. Fui aprovado e, em agosto de 2011, comecei a trabalhar na USCS e me desliguei da outra instituição, e aí me dediquei de lá até agora só a lecionar na USCS.


Pergunta:

Fale um pouco sobre a sua primeira aula, a primeira aula que você deu lá na Anchieta, e depois um pouco sobre a primeira aula na USCS.


Resposta:

Vamos lá. Foram experiências bem distintas. A primeira aula na outra instituição ela me trouxe muito da ansiedade, de como seria conduzir uma turma, de como seria o relacionamento com um grupo de estudantes. Então eu lembro que assim, eu me preparei demais no aspecto psicológico mesmo, de como seria encarar essa turma, e foi uma surpresa muito positiva, eu lembro foi uma turma muito bacana que eu trago o contato deles até hoje. Então, foi uma experiência muito legal, muito bom. Aí, com relação à primeira aula na USCS, eu acho que eu já tinha uma maturidade muito maior, então a preocupação na época já não foi mais tanto com a questão psicológica, mas com a questão didática. Então, pela vivência do próprio mestrado, então já pensar em estruturar uma aula muito mais ajustadinha, com os objetivos corretos, os recursos corretos para atingir aqueles objetivos, então eu acho que foi uma evolução bem grande. É lógico que a ansiedade e a expectativa existe sempre que você vai fazer uma coisa pela primeira vez. Eu digo que cada turma, a cada novo semestre, eu vivo essa ansiedade toda novamente. Cada vez que eu vou entrar na sala de aula, você dá aquela respiradinha na porta e entra de uma forma mais preparada, mas eu sinto que o tempo foi me permitindo ficar mais tranquilo com relação à forma de levar conhecimento, a gente diz hoje, muito mais do que levar conhecimento do que facilitar uma aprendizagem, então eu acho que hoje eu consigo ter uma segurança maior para facilitar a aprendizagem.


Pergunta:

Só uma questão, o botão ali... passou, está aparecendo aí agora?


Pergunta - Ileane:

O microfone agora caiu [risos]


Pergunta:

Prender no primeiro botão da camisa [pausa para arrumar o microfone]. Vamos dar uma olhada aí para ver se arrumou o microfone.

Resposta:
Teste, som, um, dois. Beleza?

Pergunta:
Ok. Leandro, você como morador de São Caetano, provavelmente você já conhecia de ouvir falar do IMES, e depois veio fazer a pós-graduação lato aqui na universidade. Queria que você falasse um pouco aquela percepção que você tinha dessa instituição naquele momento, ainda como morador da cidade, depois a percepção como aluno, e mais tarde como professor, como funcionário da instituição. Fale um pouquinho sobre esses três momentos de ligação com a universidade.

Resposta:
Como morador eu sempre tive uma referência muito boa da USCS, na época o IMES, ele era muito conhecido, mas existia uma visão, acho real até, de uma área de atuação restrita. Então por exemplo, eu queria estudar, decidi optar por engenharia, eu sabia que não era uma opção, o IMES não oferecia esse tipo de curso, a visão que a gente tinha era muito ligada à administração, depois à área de TI, num processo nesse sentido. Aí como eu cheguei até a USCS para a primeira pós-graduação, para o lato sensu, por incrível que pareça foi por indicação de um colega de trabalho, que morava em São Paulo, não era da região, mas ele havia conhecido o programa, ele havia feito o lato sensu aqui e tinha gostado bastante. Então, quando eu disse que eu gostaria de me aprofundar na área de marketing, que eu buscava uma pós-graduação, ele me indicou a USCS. E eu, vizinho da USCS, tive que ter essa indicação de alguém São Paulo para vim para cá [25']. Agora, como professor, e depois com o próprio mestrado, a USCS ganhou um outro corpo. Então a gente percebe que, de uns anos para cá, a ampliação, não só em termos de outro campus, ou no número de estudantes, mas muito mais da área de atuação, ela foi muito significativa. Então, quando eu resolvi fazer o mestrado, eu já tinha a USCS como uma referência. A gente tem um histórico mais antigo de que a Metodista era referência de comunicação no ABC, mas eu acredito que de alguns anos, 2005, 2006 para cá, esse cenário já foi sendo modificado. Então eu me recordo que, quando eu busquei o mestrado, minha primeira opção foi a USCS, foi minha primeira pesquisa, ________, e eu sorte de estar abrindo a primeira turma. Aí eu já tinha uma visão da USCS como uma universidade mesmo, outras áreas, com campo de estudo, de pesquisa. Acho que eu era mais maduro para entender, como funcionava essa área acadêmica, e a USCS tinha crescido demais. E aí, como professor, aí eu já vim com uma visão muito mais consolidada, porque eu já estava muito dentro da USCS quando eu fiz, quando eu estudei o mestrado. Tive algumas surpresas sim, na forma com que as coisas eram conduzidas, eu vinha de uma realidade de instituição com uma infraestrutura difícil, eu me recordo que eu comprei uma mochila gigante na época, porque eu queria passar vídeo para os estudantes e tudo mais da área, e a faculdade na época onde eu lecionava não oferecia, então eu comprei uma mochila para conseguir levar um datashow e um notebook, então todos os dias eu levava, toda vez que eu ia lecionar eu pegava essa mochila e carregava lá, um peso enorme para montar. Então, todo começo de aula eu montava minha estrutura rapidinho para poder usar o datashow nas aulas. Então, quando eu cheguei na USCS, eu já percebi uma evolução muito grande nesse sentido, a gente já tinha essa estrutura de rack na sala de aula, então isso para mim foi muito positivo. Outra coisa que me chamou muita atenção, que eu lembro que foi marcante, a gente atuava na área de marketing especificamente, não de comunicação, então, quando eu cheguei na USCS e me deparei com os laboratórios e vendo o pessoal fazendo as filmagens, e o pessoal fazendo transmissão de rádio, aquilo me encantou de uma maneira fantástica, e a gente teve, acho que foi... eu não me recordo se foi entrega que um Advertisement USCS, ou se foi num evento de encerramento do FOCO, não lembro bem qual evento, mas eu lembro de ter entrado no teatro e estar toda aquela galera de comunicação e o pessoal curtindo para caramba, e muita coisa sendo produzida, sendo mostrada. Cara, aquilo me encantou de uma forma absurda, e aí foi quando eu tive a certeza: ‘bom, é aqui mesmo que eu quero ficar, é aqui que eu quero desenvolver minha carreira'. Então, de lá para cá foi só investir nisso.

Pergunta:
E como se dá o convite para a gestão, e queria que você falasse também, aproveitando, um pouquinho sobre esses dois desafios, o atual desafio de ser professor, quais são os desafios que se impõem ao professor, e os desafios para o gestor de curso.

Resposta:
Vamos lá. Então eu vou falar primeiro sobre os desafios de ser professor. Apesar de não ter uma carreira tão longa, comecei a lecionar em 2008, eu percebo que a gente teve uma mudança de realidade muito grande. Eu acredito que a concorrência que a gente tem hoje pela atenção do aluno é muito maior. Então eu passei por algumas fases em que as instituições proibiam o uso de celular, ou de computador em sala de aula, o momento que ela passou a se questionar, o momento que ela começa a estimular o uso racional dessa tecnologia em sala de aula. Então eu percebo que hoje a gente tem que ser muito mais atraente, a gente tem que ter uma linguagem muito mais dinâmica para conseguir a atenção desse aluno. E aí eu acho que essa mudança, principalmente da questão da andradogia, de você deixar de lado um pouco o ensinar para facilitar a aprendizagem é contribuir com a gente [30']. Usar essa tecnologia, é muito mais fácil você atrair a atenção do aluno quando você está propondo que ele seja o verdadeiro ator ali, do que quando você vai ser o showman, ministrar um conhecimento e tal. Então, eu acho que a principal dificuldade hoje para o professor é essa, ele conseguir atrair a atenção do aluno para algum conteúdo que ele sabe que é importante, e que ele precisa vender essa ideia. Acho que o primeiro passo para que o aluno queira assistir a sua aula, queria, é ele entender que aquilo vai ser importante para ele. Acho que nossa função de professor, ela começa por mostrar a usabilidade daquela disciplina que a gente vai ensinar, vai ministrar. Aí, com relação à gestão, a gestão aconteceu num momento muito positivo também, muito bacana, eu tive uma aproximação maior da gestão da universidade com o projeto da USCS TV, então era uma expertise que eu tinha desenvolvido corporativamente e, quando a gente foi implantar esse canal na universidade, eu fui convidado para participar do projeto e tudo mais, e isso foi me permitindo conhecer um pouquinho mais sobre o funcionamento da própria instituição, de departamento, de como as coisas aconteciam dentro da universidade. Com o amadurecimento desse canal e uma série de mudanças, eu fui convidado para um outro desafio, que era a coordenação de eventos que a gente tinha lá na área de comunicação, então eu pude participar da primeira feira de comunicação do projeto, da condução da primeira feira de comunicação, uma experiência bem marcante e se perpetuou, a gente está indo para a terceira edição agora da feira. O resultado foi bacana, e aí sempre que você consegue um resultado bacana, novos desafios surgem. E aí a então gestão na época me convidou para assumir a coordenação dos projetos integrados, e esse eu acho que foi um marco bastante significativo na minha vida acadêmica, porque eu passei, além de ter uma preocupação muito grande com, não mais com a minha disciplina, mas a forma com que o curso todo, os cursos funcionavam, porque eu passei a atuar em todos os cursos da escola de comunicação. Além disso, eu tive também um contato muito maior com os professores, em organizar esforços, em mobilizar as pessoas em torno de um tema, e eu acho que isso foi me dando um aval para poder trabalhar depois na gestão conduzindo um curso. Isso, no final do ano passado, no final de 2016, a gente teve uma oportunidade de vacância da gestão do curso de publicidade e propaganda, e aí eu tive um convite para, de maneira informal, conduzir algumas reuniões que estavam acontecendo, discutir um pouco do nosso projeto pedagógico com os professores, acho que isso foi um processo bacana também. Isso fez com que, no começo desse ano, eu fosse convidado para assumir definitivamente, de maneira efetiva, a gestão. Então desde fevereiro, eu estou à frente da gestão do curso de publicidade e propaganda. Aí os desafios também são bastante grandes. A parte que eu mais gosto, a parte que mais dá prazer, é pensar o curso constantemente, então é estar sempre de olho no mercado, ver que tipo de profissional está sendo demandado pelo mercado, que tipo de formação a gente precisa dar para esse profissional, e trabalhar junto com os professores para oferecer essa formação. Então, essa é a parte que eu mais gosto da gestão, que me dá mais prazer, e existe um trabalho administrativo forte também, que passa por você estar gerindo o trabalho dos professores, estar administrando esse trabalho, passa por uma questão de adequação de grade, aluno sendo transferido, uma série de trabalhos mais burocráticos ligados a gestão que são muito importantes também, não são tão prazerosos, mas que são muito importantes para o funcionamento do curso, e assim por diante.

Pergunta:
Leandro, todo esse tempo que você está na instituição, você deve ter passado por vários momentos dentro da sala de aula, seja como estudante, dos projetos dos quais você participou que te marcaram, que merecem destaque. Tem algum que vem à sua memória, um fato, uma curiosidade, um fato engraçado, ou um problema que foi contornado ou não, que você quisesse deixar registrado nesse projeto? Pessoas com as quais você teve contato. [35']

Resposta:
Existem algumas...falando mais recentemente do mestrado, enquanto aluno do mestrado, acho que foi um momento muito rico. Éramos a primeira turma, uma turma pequena, e por isso a gente acabou ficando muito próximo. Era uma turma que funcionou muito bem, tanto em termos de alunos, no final nós éramos apenas em cinco, a gente começou com um número maior, que aos poucos foi sendo reduzido, readequado, e eu lembro que foi muito interessante, a torcida que nós tínhamos uns pelos outros: ‘ah, como é que vai ser a primeira defesa', aquela expectativa, porque quando eu fui defender existia uma torcida organizada lá, porque era a primeira defesa do mestrado de comunicação, a turma de professores também estava muito empolgada naquele momento, por ser a primeira turma. Eu fui orientando do Gino, do professor Gino Giacominni, que era o coordenador do mestrado naquele momento, então eu lembro que existia uma ansiedade muito grande, uma expectativa muito grande. Então isso foi muito bacana assim, uma experiência bem legal que eu me recordo. Como professor, eu acho que a coisa mais marcante, eu tenho um orgulho. Desde que eu comecei a trabalhar com o específico do curso de publicidade, desde então eu participei de todas as colações, de lá para cá, ou como paraninfo, ou como patrono, ou como homenageado. Então, esse reconhecimento, cara, não tem preço. É uma coisa assim, hoje eu encontro alunos da primeira turma, a gente teve o evento de 20 anos do PP, então a gente teve muitos ex-alunos voltando e tal, e eles lembrando de coisas da sua aula e de frases que você usava, de bordões que você usava, então isso, nossa, é muito legal. Eu lembro que um dos alunos, eu tive uma ocasião bem bacana. Eu estava dando uma aula, eu dava aula de gestão de marcas na época, e a gente tinha duas turmas no mesmo semestre no curso de publicidade, e por uma questão de ausência de professor, de um compromisso e tal, tive que juntar as duas turmas, e era inviável, eram turmas muito grande e tal, então eu fui dar essa aula no teatro, e o que foi mais interessante é que a aula começou a rolar de uma forma tal que outras pessoas que nem eram do curso, mas que estavam passando por ali, acabaram entrando, acabaram sentando e aquilo foi uma grande palestra assim, e nossa, eu fiquei muito feliz, porque a aula durou assim o equivalente a quatro horas aulas, foi uma coisa super longas assim. Não era para ser, não era o previsto, mas acabou virando um grande bate-papo. E, no dia seguinte, quando eu abri o Facebook, tinha uma postagem de um aluno dizendo assim: ‘nossa, palestra show na USCS...opa, era só uma aula'. E aquilo me deu uma certeza de que você estava no caminho certo, sabe: ‘é isso'. E é brilho nos olhos mesmo, foi muito...acho que foi a coisa que mais me marcou assim na questão de sala de aula.

Pergunta:
Leandro, você falou há pouco da USCS, daquele momento que era uma instituição voltada para uma área, e depois essa expansão da universidade. De uma maneira bem objetiva, como que você definiria a USCS hoje, ao apresentá-la para uma pessoa que, por ventura, não a conheça, como você definiria?

Resposta:
Falar da USCS hoje, para mim, é muito tranquilo. Eu acho que a gente passa por um processo de mercantilização da educação e tudo mais, que preocupa demais, e eu vejo na USCS uma tentativa de resistência [40']. A gente sabe da necessidade de captar alunos, a gente sabe da necessidade desse ensino ser viável, ser autosustentável, mas eu vejo uma preocupação muito grande em manter a qualidade de ensino. Então, quando eu converso com colegas, com pessoas que estão interessadas, muita gente me procura para saber: ‘ah, como é que eu faço para dar aula na USCS' e tudo mais, eu reforço sempre esse ponto, a USCS ainda é um lugar que te permite tratar o estudante como estudante, e não ter aquele foco negativo de olhar o estudante só como cliente, a gente tem uma preocupação de satisfazer o estudante e tudo mais, mas mantendo um compromisso primeiro com a qualidade de ensino, eu acho que isso é muito positivo. Então, eu acho que esse é o grande ponto que diferencia. Um outro aspecto que me chama muito a atenção é que, apesar de ser uma universidade regional, que tem uma atuação mais focada aqui em São Caetano, no grande ABC e tudo mais, ela tem um pensamento de gente grande. Essa preocupação de inovação tecnológica, a gente tem todas as restrições que o momento de mercado passa para gente, restrições de ser uma instituição pública, que tem que passar por uma série de processos e tudo mais, mas eu vejo que existe o desejo de ser grande. Então, eu acho muito legal quando a gente começa a ver conversar sobre internacionalização, por exemplo. Então hoje a gente tem alunos da graduação, que estão fazendo um estágio fora do Brasil, vão fazer um semestre lá e volta para cá, a gente tem alunos de fora que vem para estagiar conosco também, então eu vejo que, de novo, é empolgante você pensar que a gente ainda tem uma característica de ser pequeno, de ser regional, mas com essa visão de que a gente pode ir muito mais longe. Acho que é isso que define a USCS para mim hoje.

Pergunta:
Você começou essa conversa falando que você é bem família, né? O núcleo familiar que já vem dos seus pais, que é muito importante. Queria que você falasse um pouco sobre essa trajetória familiar e um pouco hoje, da sua família, do seu ambiente familiar atual.

Resposta:
Depois que eu já estava no mercado, que atuava, tudo mais, eu me casei, hoje ainda tenho um relacionamento muito próximo dos meus pais, dos meus irmãos, mas eu acabei compondo um novo núcleo familiar. Então, hoje eu sou casado e tenho duas filhas, uma delas está cursando o Ensino Médio, então a gente começa a olhar para as universidades também de uma outra forma, aí não mais como um gestor, ou como um professor, mas como um pai preocupado com as opções da filha, e uma filha mais novinha, que ainda está no ensino fundamental, e que ainda não tem grandes preocupações nesse sentido. Eu procuro reproduzir o que eu vivi, como essa experiência de famílias foi muito rica para mim, eu procuro, dentro da realidade que a gente vive hoje, reproduzir um pouco. O mundo está muito diferente, então a competição que a gente pela atenção dos alunos, ela se reflete também competição que a gente tem pela atenção dos filhos, e tudo mais. Então, é muito mais difícil hoje manter a família próxima, unida ali, quando você tem uma televisão em cada quarto, quando você tem tablets, smartphones da mão de todo mundo, mas eu me considero bem sucedido nesse sentido. As minhas filhas são muito companheiras, então elas já estiveram comigo na USCS algumas vezes, elas adoram quando elas podem visitar o meu ambiente de trabalho, interagir com os alunos. Então sempre que existe essa possibilidade, eu gosto de tê-las lá. Então, eu posso te dizer que a família foi a minha base, e hoje ela continua sendo, eu continuo tendo a família assim como o principal valor.


Pergunta:
Já está chegando aí na fase final da nossa conversa, mas você falou dessa diferença da competição pela atenção, mas houve alguns momentos em sala de aula, alguma situação em sala de aula, que te fez lembrar, que você se reconheceu ali como aluno, que te trouxe na cabeça a época que você estava ali nos bancos da sala de aula? [45']

 

 

Resposta:
Nossa...eu acho que, sim, a gente sempre teve uma heterogeneidade que ela é positiva por um lado, mas ela é perversa por outro lado. E eu lembro que um dos grandes dilemas que eu tinha quando eu estudava era a vontade de alguns para aproveitar ao máximo aquela oportunidade, frente a um grupo que não tinha o mesmo nível de interesse. A gente comentava muito na época que tinha um pessoal que suava muito a camisa, para pagar a faculdade, e era o cara que queria aproveitar cada minuto, enxergava aquilo como uma mudança de vida, uma chance de ascensão e tudo mais, e eu enfrentava isso. Só que as brincadeiras, as formas de dispersão da época que eu estudava no ensino médio, no ensino fundamental, eram outras, e a gente tinha um nível de...um respeito entre aspas aí da autoridade, do professor e tudo mais, que faziam com que a gente fosse mais centrado. Talvez não por um bom motivo, meio na pressão, mas nós éramos mais centrados. Hoje, eu percebo isso também em sala de aula. A gente tem um grupo, felizmente, maior, de alunos que enxergam ali uma oportunidade enorme de transformação, de mudança de vida, e que sugam [aspas com as mãos] o máximo que eles puderem do seu conhecimento, da sua bagagem, frente a alguns alunos que não perceberam isso. Eu acho que o fato de os alunos ingressarem muito cedo hoje no ensino superior, e o próprio processo de um amadurecimento mais tardio da juventude e tal, faz com que muita gente chegue na universidade, sem entender muito bem o que aquilo significa. Então, leva um tempinho para esse aluno cair na real: ‘poxa, eu não estou mais no ensino médio, eu tenho uma liberdade muito maior, mas eu tenho uma responsabilidade também muito maior', então eu vivi isso, mas de uma forma muito diferente. Eu acho que as situações se repetem, mas os cenários são completamente distintos.

 

 

Pergunta:
Aproveitando esse gancho, tem um livro antigo, não era tão bacana, mas a ideia é original, que eu achava que era legal. Eles foram atrás de empresários e perguntaram para esses empresários bem sucedidos e tal, o que eles gostariam que alguém tivesse dito para eles no início de carreira, o livro chama Ah! Se eu soubesse. Tem alguma coisa que você sabe hoje, até com toda essa experiência acadêmica, que você gostaria que alguém tivesse te dito quando você estava lá no primeiro semestre da faculdade?

 

 

Resposta:
Sim, e isso eu te falo com muita tranquilidade, porque eu reflito muito sobre isso, o mundo é feito de pessoas. Não existe nenhum conhecimento, não existe nenhuma tecnologia que supere o relacionamento. Eu acho que, eu gostaria muito no início da carreira de ter sido preparado, melhor preparado, para relacionamentos, a tal da outra inteligência, a inteligência mais relacional, que não é só apoiar conhecimentos, mas essa capacidade de compreender o outro, capacidade de empatia, capacidade de networking, então eu sinto que minha carreira teria sido muito mais proveitosa, muito mais facilitada se eu tivesse percebido isso mais cedo. Acho que eu levei um tempo para compreender que as coisas só acontecem no coletivo. Que, por melhor que você seja, por mais que você esteja preparado, por mais que a sua empresa, sua instituição tenha uma tecnologia de ponta, um produto diferente, se eu não entender de gente, a coisa não acontece. Tem uma expressão que eu aprendi numa palestra também de um consultor que ele usa a expressão gentóloga, ele fala que é o contrário do coisólogo [50']. Coisóloga é aquela pessoa que gosta de falar de coisa, e o oposto disso é a gentóloga, que é aquele que gosta de gente, que percebe que existe gente por trás de todas as coisas, e eu acho que a gente precisa aprender a ser mais gentólogo, eu gostaria de ter aprendido isso mais cedo.

 

 

Pergunta:
Leandro, independente da geração, você tem fatos que marcaram as pessoas, o americano de uma geração um pouco mais antiga tem aquela coisa, o dia que mataram o Kennedy, então onde eu estava o dia em que o Kennedy morreu. No Brasil, por exemplo, você tem ícones da cultura pop, como bossa nova, Chega de Saudade, tem toda uma geração da primeira vez que eu ouvi Chega de Saudade, mudou um pouco. Eu lembro da primeira vez que eu vi o iPhone, eu pensei: ‘o que que é isso?'. Tem algum fato, ou alguma tecnologia, ou algo que você pode dizer, ou coisas que te impressionaram? Por exemplo: ‘poxa, isso aqui foi um divisor para mim, caramba, o que que é isso?', que teve um impacto numa obra artística, ou seja lá o que for?

 

 

Resposta:
Eu lembro de algumas coisas muito relacionadas à infância, eu não tenho muito ídolos assim, um cantor, um atleta, alguém em quem eu me espelhe e tal. Eu tenho várias referências, mas ídolos assim eu não tenho. Eu lembro, por exemplo, de quando, uma coisa que me marcou muito na infância, foi quando o Brasil perdeu a copa de 1982, eliminação do Brasil na copa de 1982. Eu lembro que, como eu te falei, naquela época a gente vivia na rua, jogando bola na rua, para lá e para cá, e eu lembro que foi muito triste sair de casa naquele dia, encontrar as pessoas para jogar futebol e falar assim: ‘nossa!', parece que o mundo tinha acabado ali, foi uma cena muito triste. Eu tinha 13 anos na época. Então eu lembro muito desse momento, depois, algumas coisas que foram muito marcantes na história do Brasil, eu acho que de uma visão muito crítica, então a questão das Diretas Já! que eu lembro que foi uma coisa que provocou uma comoção. Eu já tinha um olhar mais crítico do que estava acontecendo, eu não enxergava ali toda uma movimentação, dos caras pintada, olhava aquilo com um certo pé atrás de tentar entender o que estava motivando, se era mesmo uma consciência ou não, mas uma coisa que eu me lembro que me chamou muito a atenção é que eu já estava na empresa, nessa época que eu estava entrando para a área de marketing, quando a gente teve a divulgação de um dos planos em que a poupança foi retida, e que as pessoas tinham um valor X para gastar, para investir e tudo mais. Eu estava na sala, eu era muito jovem também, jovem na carreira, mas, por estar naquela área de formação da área de marketing, eu estava assistindo e foi anunciado durante o dia, durante o horário normal de trabalho, eu estava na sala de reuniões da diretoria, assistindo àquele anúncio. E eu vi as pessoas se descabelando: ‘poxa, como vai ser', aquela loucura toda. E eu me recordo que, eu tinha uma visão muito bacana de oportunidade naquela época. Eu acho que eu estava num dos momentos mais otimistas, por tudo que estava acontecendo, eu olhava as pessoas lá super preocupadas e falava: ‘nossa, o que isso vai trazer de bom, o que a gente pode...', então esse fato foi muito marcante. Mais recentemente, eu acho que a queda do muro de Berlim, quando você fala de todo esse cenário, não Brasil, mas mundial. Eu acho que isso, para mim, foi muito significativo para mim. Eu falei: ‘opa, acho que agora o mundo vai mudar o mundo, vai mudar bastante'. E recentemente a internet, né? Eu já estava na empresa, na agência, eu lembro que a primeira vez que eu tive contato, eu usava a internet para consultar determinados dados, coletar algumas informações ali e tal, mas nunca tinha tido contato com a internet como negócio. Até que uma pessoa nos procurou interessada em montar dois portais [55']. Eu falei: ‘nossa, como assim montar portal'. Ele queria, eu acho que era ligado à comercialização de cavalos, alguma coisa assim, e aquilo tudo era muito novo, e esse cara era da área de TI, não tinha nada a ver com comunicação, mas ele viu uma oportunidade de negócio e tal, e foi uma contribuição enorme, porque ele fez com que a gente corresse atrás. Então desde muito cedo eu fui obrigado a enxergar a internet como um negócio, como uma realidade e tal. Então, eu acho que isso foi marcante para mim.

 

 

Pergunta:
Tropicalista não tem futuro, vamos fazer aí que é job de cliente. O cliente quer, vamos fazer.

 

 

Resposta:
Ele falou: ‘nossa, que máximo, né?'. Não, que nada. Eu lembro que na época eu dava aula em marketing e a gente começava a falar sobre revolução industrial, e aí eu virava para os caras e falava: ‘nossa, a internet é muito mais impactante do que revolução industrial', e todo mundo olhava para mim com uma cara meio: ‘o que você está enxergando nesse negócio de internet e tal'. E realmente virou uma coisa que era impossível de imaginar naquele momento o tamanho que ia ter. Eu estava até comentando recentemente que eu sempre trazia um convidado nas aulas de mídias digitais para falar sobre a internet das coisas, e que isso perdeu completamente o sentido porque todas as coisas hoje estão na internet, então falar de internet das coisas virou redundante. Então eu acho que são esses fatos assim que mais me marcam em termos de história, em termos de momento assim.

 

 

Pergunta
O que a USCS representa na sua vida?

 

 

Resposta:
Hoje ela é uma parte essencial em vários sentidos. Uma pelo tempo que eu dedico à USCS. Eu tenho a facilidade de morar muito perto da USCS, e isso faz com que eu esteja constantemente lá. Aquela coisa de sempre dar uma passadinha, precisando ou não. Então, eu acho que hoje eu tenho um tempo de dedicação muito grande. Eu acho que a gente deve sempre continuar estudando, então agora eu estou me programando para fazer o doutorado em administração aqui na USCS também, então eu acho que vai crescer ainda mais essa participação, e principalmente por direcionamento de carreira. Eu fiz a opção pela área acadêmica, eu mantenho um vínculo com a área corporativa hoje porque eu acho que ela me enriquece em termos de área acadêmica, mas toda a minha plataforma de carreira hoje é voltada para a área acadêmica, e a USCS faz muito parte disso. Eu não tenho assim nenhuma pretensão por exemplo de ir para um federal, ou alguma coisa nesse sentido, meu desejo é realmente de fazer as coisas acontecerem na USCS, de ver a área de comunicação crescendo, de conseguir fazer parte desse processo da USCS ser referência em comunicação na nossa região, e por que não no Brasil? Então, eu tenho expectativas muito grandes, mas todas elas relacionadas à USCS. Eu acredito que a única coisa que me afastaria da USCS nesse momento, de maneira planejada, é uma experiência internacional que eu quero ter. Eu quero ter uma vivência da área acadêmica também fora do Brasil e como isso acontece, o que a gente pode aprender, o que pode trazer e tudo mais. Mas, hoje, o meu projeto de carreira, de vida, é ver a área de comunicação da USCS sendo reconhecida pelo potencial que ela tem, então as coisas estão muito próximas.

 

 

Pergunta:
Leandro, tem mais alguma coisa que você gostaria de destacar com esse projeto que busca essencialmente resgatar e manter viva a memória da nossa universidade, e das pessoas que fazem essa história?

 

 

Resposta:
Eu vou falar com todo o bairrismo que São Caetano me permite, quem nasce em São Caetano, quem mora em São Caetano, acaba se apaixonando pela cidade, e eu acho que é meio difícil a gente olhar para São Caetano sem lembrar da USCS. Eu acho que durante muito tempo, quando eu falava onde eu morava e tudo mais, as pessoas me perguntaram: ‘mas é perto do IMES?' [01:00]. Então eu digo IMES e a USCS hoje, elas são uma referência de São Caetano, e eu acho que é fundamental a gente assumir essa vocação, entendeu? A gente tem essa cara de São Caetano, e do mesmo jeito que São Caetano ficou famoso por: ‘Ah, a gente manteve o IDH altíssimo, reconhecido no Brasil e tudo mais', eu acho que a gente precisa trazer isso para a USCS também. Então eu acho que é muito importante a gente resgatar e manter toda essa história para que ela seja base para um futuro enorme. É aquilo que eu te falei da gente se ver regional, mas sonhar com uma projeção muito maior. Eu vejo que isso aconteceu em São Caetano num determinado momento, e que isso precisa ser potencializado na USCS, então eu acho que é esse o grande valor que eu exergo dessa iniciativa, da gente manter viva essa história, da gente ter os fundamentos ali, ter a base do que a gente pode ser daqui para frente.

 

Pergunta:
É isso aí, só me resta agradecer pela participação.

 

Lista de Siglas
RH: Recursos Humanos
USCS: Universidade Municipal de São Caetano do Sul
CEAPOG: Centro Avançado de Pós-Graduação
IMES: Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul
TI: Tecnologia da Informação
FOCO: Fórum de Comunicação
PP: Publicidade e Propaganda
IDH: Índice de Desenvolvimento Humano

 

 


Acervo Hipermídia de Memórias do ABC - Universidade de São Caetano do Sul